Empreendedores, nós?

Artigo que escrevi para o Correio da Manhã em Agosto de 2012. 
Muito do que escrevi neste artigo ainda se encontra actualizado,embora nos dias de hoje os principais problemas para os empreedendores agricolas sejam os atrasos do financiamento dos projetos PDR2020 e na falta de apoio financeiro para quem está instalado e tem necessidade de financiamento de longo prazo e barato. 


Talvez nunca como nos últimos meses, a palavra “empreendedorismo” e “empreendedores” tenha sido tão utilizada no nosso país. Não deixa de ser aliás um paradoxo que tanto apelo se faça à iniciativa privada num país habituado a viver dos subsídios e à custa do Estado Providência. Sinal dos tempos.
Pergunto-me mesmo se sabem os políticos do que falam quando falam de empreendedores e de empreendedorismo. Somos realmente um povo de empreendedores? A resposta não é simples.
Olhando para o sector da atividade económica que conheço bem, a agricultura, digo que sim: somos empreendedores. Baseio-me em dados da atualidade e numa realidade histórica que me diz que as más políticas agrícolas de sucessivos governos apostaram em destruir a agricultura portuguesa e só não a mataram porque os agricultores portugueses são empreendedores.
A questão é: podemos ser todos empreendedores? A resposta é não. E é esta seleção que os políticos e os governos não têm sabido, ou podido, ou querido, fazer. O Estado tem um papel importante para defender o empreendedorismo e os empreendedores nacionais.
Aqueles que, por ignorância ou má-fé, acham que um bom empreendedor deve estar o mais longe possível do Estado e ser deixado à sua sorte, não deveriam nunca ocupar cargos políticos. Porque estão a fazer mal ao país, ao seu empreendedorismo e aos seus empreendedores.
Na verdade, há os que podem mas não sabem; há os que podem mas não querem; há os que não podem mas sabem e querem. São estes últimos que o Estado deve apoiar e para quem deve falar.
Nos últimos meses uma média mensal de 200 novos jovens agricultores tem lançado projetos agrícolas inovadores, criadores de emprego e riqueza. Têm avançado com os seus parcos recursos próprios e desesperam pelo apoio financeiro que a banca não lhes concede porque são empresas “start up”.

Muitos infelizmente não resistem à burocracia estatal dos licenciamentos; outros arriscam tudo para agarrar o sonho de uma vida. Se querem falar de empreendedorismo e empreendedores, ponham a bolsa de terras em funcionamento, criem uma linha de crédito na CGD para apoiar os investimentos e a tesouraria, a qual deve ser do tipo “crédito à habitação”, operacionalizem uma formação profissional eficaz, controlem as margens da distribuição organizada e sobretudo, deixem os gabinetes e vão falar com eles, percebam os seus problemas e criem soluções!

José Martino
Engenheiro e consultor agrónomo (htpp://josemartino.blogspot.pt)

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