Reflexões sobre os negócios da agricultura e respetiva competitividade
Apesar das muitas multiactividades que desenvolvo em
gabinete, seja ao computador em trabalho de produção, reflexão e análise, seja
em reuniões, passo no campo perto de metade do meu tempo de trabalho, faço
assistência técnica a empresários agrícolas, assessoria a serviços técnicos de
OP, visitas de estudo com o objetivo de conhecer pormenores de novas
atividades, novos produtores, caraterizar metodologias de gestão e resultados
económico financeiros, etc.
Verifico que há variadas formas, muitos
e diferentes caminhos, para atingir os mesmos objetivos no desenvolvimento da
mesma atividade agrícola. Por outro lado, o que mais me impressiona é a forma
de gestão empregue por alguns empresários agrícolas: conheço casos de
produtores que registam todos os pormenores das atividades que fazem, hora a
hora na sua exploração ou seja, e.g. a interrupção na execução de uma operação
cultural, imprevistos e o respetivo tempo, equipamentos utilizados, etc.
Procedem à caraterização de tudo o que constitui a sua exploração, parte
produtiva, construções, melhoramentos fundiários, máquinas e equipamentos, etc.
Há registos de muitas e diferentes formas, pode ser o tradicional caderno A4
para registo de dados e o Excel para o seu tratamento subsequente, passando
pela recolha de dados em telemóvel ou Tablet e o recurso a sofisticados
programas de gestão, terminando na panóplia de sensores que de forma automática
registam os dados e o respetivo tratamento faz-se com programas informáticos
avançados. É todo um admirável mundo de novas realidades que se abre nas
agriculturas de Portugal, um virar de página, uma lufada de ar fresco, um
contributo para o incremento do seu valor acrescentado, uma oportunidade para
quem está aberto a tirar partido da gestão na agricultura, que produz utilizando
as mesmas ferramentas de qualquer outro negócio moderno, eficaz e competitivo.
Quais as razões que levam a maioria dos empresários agrícolas a não tirarem partido destas metodologias?
Na minha opinião, há um preconceito psicocultural enraizado na sociedade portuguesa, transversal a todas as classes sociais, independente do nível de formação formal: “a agricultura não pode ser levada a sério porque não é um negócio”.
Este grande grupo que se dedica ao
negócio nos campos acredita que um empresário agrícola não pode ter um
colaborador cuja única função é recolher dados, mesmo em períodos temporais
limitados, de pico de atividade (e.g. colheita, etc.) porque é um luxo
demasiado caro que a atividade nunca suporta.
Acredita a maioria dos agricultores que quem explora a agricultura não pode ter o foco de forma contínua e permanente na operação cultural seguinte, não faz com que esta seja a mais importante ou mais urgente, tendo por base os superiores objetivos da produção, otimização do binómio quantidade e qualidade e a execução da operação cultural na sua melhor oportunidade técnica.
Acredita a maioria dos agricultores que quem explora a agricultura não pode ter o foco de forma contínua e permanente na operação cultural seguinte, não faz com que esta seja a mais importante ou mais urgente, tendo por base os superiores objetivos da produção, otimização do binómio quantidade e qualidade e a execução da operação cultural na sua melhor oportunidade técnica.
Como se rompe com este paradigma?
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