Voz do Campo - Grande Reportagem
Continua a ser rentável ...
para
quem faz investimentos ponderados
Novas espécies e variedades
representam uma estratégia para diminuição do risco de produção, seja por
alargamento do portefólio de produtos, seja pelo atingir novos mercados fora
dos tradicionais.
“Continua a ser rentável investir
na kiwicultura para quem faz investimentos ponderados, colocados em parcelas
com aptidão de solo e clima adequados para esta cultura, tem capacidade de
gestão, sendo capaz de formar devidamente as plantas e conduzir a exploração,
fazendo com que as actinídeas produzam com elevada produtividade e alta
qualidade dos frutos, traduzida esta no peso médio acima dos 100 gramas por
fruto, sem defeitos de epiderme ou forma, elevado tempo de conservação
frigorífica (pelo menos 6 meses), frutos duros, bom sabor, produção certificada
em Global.G.A.P. etc.”, é assim que responde o consultor agrícola José Martino
à nossa questão se ainda é rentável investir em kiwicultura. Vai mais longe ao
afirmar que é muito interessante porque “o preço de valorização dos frutos
recebido pelo produtor é acima do custo de produção, quer em termos
financeiros, quer em termos económicos.
Na visão do mesmo, é bom recordar
que nos últimos (15) anos a fileira do kiwi tornou-se mais profissional,
organizada e exportadora. Neste prazo temporal foi constituída a APKAssociação
Portuguesa de Kiwicultores, a qual congrega produtores, entrepostos e técnicos.
“Esta Organização da fileira veio trazer liderança à fileira, com foco no
incremento da taxa de kiwis exportados, traduzindo-se na melhoria do valor acrescentado
gerado. Houve incremento da superfície de produção, sobretudo na vertente
profissional (mais de 4 hectares de superfície por exploração) e ao mesmo tempo
que apareceram novos entrepostos, KiwiGrensun, PROSA e PMNI houve concentração
à volta, quer dos mais recentes, quer dos mais antigos, Kiwicoop e Frutas Douro
ao Minho” reconhece o técnico.
Ultimamente têm sido introduzidas novas
espécies e variedades de kiwi, rentáveis, na visão deste consultor “porque
exploram novos segmentos dos mercados que os kiwis de polpa verde não
conseguiam chegar, porque são frutos mais doces, menos ácidos, mais simples no
ato de consumo, etc. Para o produtor a sua cultura representa uma estratégia
para diminuição do seu risco de produção, seja por alargamento do portefólio de
produtos, seja pelo atingir novos mercados fora dos tradicionais”.
À nossa questão se faz sentido pensar na
cultura do kiwi em Alqueva, onde estão a ser feitas culturas que até há pouco
tempo seriam impensáveis, José Martino defende que o kiwi deve ser instalado
nas regiões onde tem maior aptidão para a cultura: Minho e Beira Litoral. “São
regiões com elevada humidade atmosférica, com frio de inverno acima das 500
horas de temperatura abaixo dos 7,2ºC, verões cuja temperatura não ultrapassa,
por largos intervalos de tempo, os 30ºC.
Defendo que só depois de esgotadas as superfícies disponíveis
nestas duas regiões se deva avançar para outras que tenham elevados
quantitativos de água disponível para rega”
O surgimento
de pragas e doenças, nomeadamente a PSA, tem ameaçado a cultura?
José
Martino: As novas pragas e doenças são desafios que o kiwicultor tem
experimentado ultrapassar com sucesso. É lógico que as práticas culturais que
ajudam a prevenir e controlar os prejuízos decorrentes destes ataques, trazem
acréscimo de custos de produção, nomeadamente, mão de obra, produtos,
coberturas, etc. Regista-se que acarretam incrementos no custo de produção e
que mesmo estes são semelhantes para as produções dos países cujos kiwis
concorrem nos mercados com os kiwis de Portugal. Em conclusão, os problemas
fitossanitários não ameaçam a cultura, exceto se esta estiver mal instalada, em
zonas sem aptidão climática ou em solos fortemente limitados na sua drenagem ou
com plantas já contaminadas de viveiros ou para produtores imprevidentes que
não utilizem as melhores recomendações culturais para prevenir as doenças ou
para variedades mais sensíveis, não estando instaladas coberturas/abrigos para
proteger as plantas das precipitações.
Enquanto
consultor agrícola, que conselho deixaria a um interessado em produzir kiwi?
José Martino:
O conselho que deixo é do mesmo tipo que apresento a qualquer empreendedor
agrícola: faça pesquisas na internet e visitas de campo para aprender os
pormenores da tecnologia de produção e com base na informação recolhida,
elabore um plano de negócio sumário. Após ter percorrido este caminho, contacte
consultores, valide o seu plano de negócio e contrate os melhores para elaborar
a candidatura. Enquanto aguarda pela aprovação das ajudas públicas de apoio ao
investimento, estagie em plantações que tenham histórico de boas produções e
bons resultados. Aprenda a gestão empresarial, verifique o que os outros
produtores fazem como práticas exemplares, ganhe competências. Visite o número
máximo de explorações de kiwi que seja possível, amplie a rede de contatos dos
players na fileira do kiwi. Valide os orçamentos do investimento com negociação
dos prazos de pagamento. Com a candidatura aprovada passe à ação e faça
rapidamente a implantação do pomar. Seja empresário, implemente um sistema de
controlo de gestão como se faz em qualquer empresa moderna.
VOZ DO CAMPO AGO.SET
2017 21
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